sábado, 1 de maio de 2010

Tatuagem

No cume de uma árvore entreaberta, uma borboleta extática dormia entre as folhas da colina vasta de árvores. Pouco abaixo uma caverna sem acesso, revestida de terra que por algum motivo fechara a entrada. A borboleta esbanjava as asas esverdeadas abertas sem preocupação, pois nunca seria alvo de qualquer predador, enquanto o resto do monte apetecia aquele sono belo e perpétuo. O Sol tocava a parte exposta das folhas da árvore que guardava a borboleta, alumiando a ponta das folhas com um dourado-mostarda enternecedor.

Compungir-se por aquilo não seria má idéia, no entanto aquela árvore dava vida a toda colina. Todas as outras árvores eram sombrias e caiam na miséria incolor da natureza. Viviam apenas do resquício de luz que a árvore principal produzia como um diamante espargindo ao Sol. Sinto que já havia visto aquilo, como num flash ou em um sonho rápido daqueles que não se conta a ninguém, como se já tivesse visto nas nuvens aquela borboleta.

Aquilo fadou o meu outono, mesmo prognosticando as mil mãos que já lascaram a árvore desde que tivera a presença da borboleta, desde que aprendeu a brilhar com pouco Sol, desde que é admirada em versos e prosas.

Garnel, Garnel... ainda não aprendeu que isso é errado?

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