segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

F.Y


Dormir leva a uma tendência de você.
Ainda se, em flanco,
Num vento impetuoso de calor
De um cobertor meio-coberto.

Quando esse meu beiço dorme nos seus lábios
Ou essa cara esbarra em tua face
Ou essa garra acaricia sua mão
Ou essa loucura germina nos seus sorrisos:

Absorto, anulo qualquer possibilidade de expressão
E o meu dormir passa a ser uma possível, em tendência.

Express

terça-feira, 1 de novembro de 2011

1 de novembro

Descobrir.
Numa noite, à véspera, à beira, num vasto Oasis tímido...
Descobri a eternidade. Descobri o prazer que é descobrir.

Não há janelas no passado. Me lembro que te amo e que em anos
o primeiro e lacônico beijo te fez nova a cada beijo que precede.
A métrica das lembranças e da descoberta te faz inescrutável
há três anos do primeiro beijo.

O primeiro que mantém o sempre.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

G ponto C


Ando reencenando a moda da praça na memória:

Aquele tempo em que o sofá era concreto, vestido de propagandas
E o início da tarde era molhado de amplexos cheirosos.

Eu carregava seu cheiro doce na mão.
Era uma fotografia intocável, imutável
Era um rascunho da manhã,
o teu cheiro.
Era rompante, voraz... cru.
Num ímpeto te suspirava dezenas, centenas de suspiros.

"A definição do seu calor
vivia no embalo da copa das árvores.
No colo dos assentos.
Nos espasmos das pombas."

Hoje, a praça dorme de nós.

sábado, 8 de outubro de 2011

Biopsia da saturada

Seu fungo fede...
Fede a ferida necrosada em rabo de cão de rua.
Verdade.
Como resto de placenta esquecida.
Mesmo nunca sentido.

Sim, esse fungo que te ostenta nos dedos...
Verruga, ou como quer que chame.
Não serve a fermento, nem serve a doença.
Seu fungo é teu rosto em fórmula reduzida.

É, seu fungo é teu filho obeso
praticando o obeso e o canibal.
Seu fungo é teu filho que se alimenta dos fungos
que não são alimentos...
Restos e restos da pele flácida

"A desenvoltura reduzida.
simples... prevariação da vida.
Jamais comparada ao Saccharomyces."

Os resultados foram drásticos.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Baco



Lia sempre de sua mente à forma minemônica
Um Ultrajante Complexo de Safadezas;
Um Complexo de Ultrajantes Safadezas;
Outras Ultrajantes Safadezas Complexas.
ucs, cus, usc. De um ou mais 'cus' relacionados.

Logo, matematicamente falando: Sua vida era um sofismo
nada matemático. Uma mentira sobre duas, sobre quatro
sobre oito e sobre tantas potências que se contar, perde a conta.
Porque, toda promiscuidade é quase uma farsa.

Então, a máscara das farsas é uma só.
Uma única sequência de minemônicos 'cus'.

Baco descobriu a vinha, os excessos, a bebedeira
E fez do mundo
uma mulher
bacante.



terça-feira, 23 de agosto de 2011

Limbo


Dá calúnia.

Resta um pouco, entre o tempo que liga os intervalos de tempo
Uma sensação incólume de que alguém a usa.
Tendo na ponta do nariz, os resquícios involuntários de que existiu.

Seria a relação de um crime com a digital do seu feitor.
Dos bárbaros e do sangue derramado.
De tentar escrever um improviso com improvisar.

Seria enganar para sustentar
outro engano, que sustenta
um arranha-céu.



quarta-feira, 17 de agosto de 2011

D. Mar


Mas a velha amava tanto que de tanto amar, amou demais.
Não amava a outro velho, nem os netos, nem os filhos desses netos
Muito menos seus próprios filhos.

Amava mesmo é silvar a vida, assoar o ar que por tubos a mantinha
Amava a arritmia dispersa do seu coração, viver a míngua.
Seu prazer era acordar e questionar porque, e se alegrar porque
Apreciar porque, porque vivia.
Porque viver era seu clítoris.
Porque só há porque quando há vida.

É mais fácil, para um velho, perecer de ar e não de ódio
Abstrair-se do mundo e não de si
Partir o pão do que comer...

Até que não aguentou mais e esqueceu
Não teve mais porquês
Apascentando a noite.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

(oxes) -1


Qual a possibilidade da soma de duas incógnitas gerar um resultado
Que não seja uma terceira. Uma sigla quase sempre.
A matemática das poesias, a equação que são, que soma.

De muitos calos na mão, cafeína no organismo,
piscadas longas, as letras são números ordenados.
Tudo, tudo que se lê não passa de um sofismo.
As equações não geram resultado.


terça-feira, 21 de junho de 2011

Pique-nique

Admitida e verde suposição
O inferno lota por mais um.
O último é o que se sente pior.
Lá ninguém te diz o que não deve dizer.

De adeuses o mal se alimenta, dos grumos
E a ceia é servida com qualquer resposta
Que se responda mal.

Não serve o pão quente
Mas come do que presta.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Corolas

O que tanto tempo me disse?

O fascínio.
É uma benção tão difícil, fascinar-se.
Que tanto, tanto fascínio forma um ser, humano, desumano
que a velha senhora da faxina é formada de fascínios.
Seu cão teve sua face, seus livros tiveram seu cheiro, seu marido lhe parecia,
Uma orquídea lembrava seu rosto. Cada rosto tem sua orquídea.
O jornaleiro quase cego teve seu fascínio.
O maquinista em boa forma, a dançarina,
A bibliotecária sem vida, a garçonete mulata e maltratada.
E de tanto fascínio, tantas orquídeas, tantas variações

A realidade se torna um eco remoto
Dos encantamentos.





quarta-feira, 20 de abril de 2011

In questo mare


Que arritmia essa nossa.
As pernas desnudas
uma respiração...

Que sonho mais humano. Um ventre vazio num corpo jovem
De frêmitos livres e constantes desejos.
As unhas, agora, deslizam a pele e ferem a carne.
Ferem a carne.

E agora te amo, como se a convulsão dos mares
E a convulsão do vento, e a convulsão do Sol
E a combustão dos carros e a congestão dos vias
E a loucura das crianças, e a verdade das crianças
E a convulsão, a simples convulsão do amor
Fossem culpa nossa...

Aí me lembro da praça, do seu sofá, do meu sofá, da cama, do carro, do Centro, das verdes horas que já passamos juntos e das verdes que passaremos.

Até que escutemos de longe os passos:
Que entoam o fim do inverno, do outono, da primavera ou do verão
Que misturam as estações e nos levem para
Um lugar ainda melhor.




segunda-feira, 28 de março de 2011

Pêndulo

O comum, maior comum entre todos nós é o tempo.
A única ode que todos cantam,
A única abstração que não se auto-flagela.
Afeta as horas de vida, a posição do Sol, os transportes, as civilizações, a moda,
Afeta tudo exceto seu próprio comércio...

O que mais me dói é afetar a criadora.
Alguns meses atrás notei, perdido na escuridão de seus cabelos
Um fio muito mais claro.
Um fio branco no cabelo de mãe.

Ao meio dia de alguma usina
Ao soar do sino de alguma catedral.


terça-feira, 22 de março de 2011

Libre


De repente vem uma calma tão sóbria e cheia de si, vem as flores, as mãos, o som e a saudade. De repente me lembro e esqueço das coisas, porque são poucas coisas, poucas rosas, pouca vida, pouca fibra. De repente um cabelo branco perdido, uma tarde perdida, um amor perdido, um corpo a fenecer.

De repente a Láctea resumida nos olhos de alguém, nos olhos calmos de alguém. Ou na aventura arda que aprendemos na decadência do espaço, sem mãos enlaçadas ou peles macias, sem filhas, nem mulheres nem nada. De repente é uma coisa só.

As próprias flores pensando contra sí, as mãos traindo a sorte, os dedos criando calos.
A morte, que nega o impasse da vida, a hora absurda da morte.
"Daí somos mais fortes. De repente, sem mais nem menos:
Morremos."

sexta-feira, 18 de março de 2011

Ao meio

Eu sei, sei bem. Sei até demais, sei demais.

Apesar do falsete de medo que fez
Do escarro de sempre
Do sangue corrente
Sei bem o que fez e que faz.

E que não é nada demais
Mais, além e sempre
É tão normal a furia
Dos seus ancestrais
Herege.

O incêndio da sua mentira
O acordar fora de casa
Sem ter mais nada
Sentindo do incêndio a brasa
Seu grumo.

Seu grumo, escarro, vertigem
Sangue, visgo, caminho
Sono, nudês, desvarios.
Sua síntese mal planejada




terça-feira, 8 de março de 2011

Queria

São raros gestos vindo, muitos indo.
Do meu tempo quase todo o vão
E quando a sinto ardente, vais pra onde seja.
A hora agora é esclarecimento e é saudade,
é só e vai.

Como é viva sua imagem à distância,
Mais que à presença por costume em não ter nada
Senão o teu espectro rarefeito.

E do horizonte ouvir teu canto é vivo
Pois vivo ainda e tardo em morrer nas tardes quentes.
Porque ardo ao sim
Ardo ao não e ardo
ao túmulo da certeza.

"Uma só morte, um só poeta"


sexta-feira, 4 de março de 2011

Servidor

Eu cobiçava meus olhos eternamente voltados,
eternamente criando, eternamente escuros.
Também o cetro dos reflexos ou a magia da visão

E se não me fosse, ninguém cobiçaria.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Mais que isso


Minha grande delícia é, na verdade luxuosa do tempo, encontrar-me a boca num copo quente de café: Num café de padaria, suculento e linear, acompanhado sempre da voz rasgada do balconista cearense, da moça que está para ser demitida, da morena quase bonita, do maluco que pede pão, da caixa grossa, dos doces da semana passada, das aulas perdidas, das sujeiras ou o odor de urina do banheiro sujo. Acompanhado sempre do mesmo amigo.

No final das contas
A saudade vai me sufocar
E as lembranças serão labirintos encaracolados
Como nossos antigos cabelos.

"FALOU CEARÁ!"


sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Amanhã


Lembrei da paixão vadia que tive sempre por teus lábios. Como progressão de paixões, uma somando-se a outra. De ti, teus lábios, teu jeito, teu pescoço, sua tez e a maciez que a envolve resultando num amor infame, num amor sincero. Tão sincero que já vejo tudo:

Cecília entre nós dois, no banco escuro do piano escuro. A sacada entreaberta numa noite quente, com o refresco em teu sorriso doce, meigo e singular. Depois, relembraremos da noite que te pedi em casamento, relembraremos do início do relacionamento, relembraremos de como tínhamos vontade do presente -atual futuro-. Junto a nós três aquela vontade de eternizar a cena, o espaço de tempo mais feliz de nossas vidas.

Essa paixão que me cerca faz-me crer que tudo será possível, essa vontade desesperada de você. Até seus olhos, como cárcere, me prendem nessa necessidade de seguir adiante.

"Vejo, enfim, no nosso sereno jeito, a intenção mais velha, clássica
e humilde
de ser feliz."

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

É bom saber...


Quem é você senão a inversão de mim mesmo?
Talvez minha carcaça como verruga nos pés de Deus, ou talvez a carcaça de Deus nos pés de seu reflexo engrandecido. Senão o paralelo das mentiras, os pólos das mentiras. Talvez seja a mentira.

Talvez seja a mentira, você, coberta de mel.

"E quem gosta de nós quer que sejamos alguma coisa de que eles precisam. Mentir da remorso e não mentir é um dom que o mundo não merece."

.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Quem vai


É melhor dormir mais cedo
Ainda com a inocência em sã consciência.
Antes que revire o grande satã que mora nas lembranças
E geme num sorriso a agonia incógnita das festas,
das manadas consumistas, das gordas, dos íncubos flagelados.

É melhor dormir mais cedo
Porque quem toma conta das crianças é a doença
E quem cuida da doença é o homem. Deixe que morram
As crianças tão cheias de vida.
A morte é feita de circo, festas, primavera.
A morte é quase sempre mais feliz que a vida:
Lá não dói, lá ninguém vai nunca embora
As janelas vivem cheias de gente dizendo "oi"


"Se nunca mais voltasse
Seria a morte, o antibiótico derradeiro."