segunda-feira, 28 de março de 2011

Pêndulo

O comum, maior comum entre todos nós é o tempo.
A única ode que todos cantam,
A única abstração que não se auto-flagela.
Afeta as horas de vida, a posição do Sol, os transportes, as civilizações, a moda,
Afeta tudo exceto seu próprio comércio...

O que mais me dói é afetar a criadora.
Alguns meses atrás notei, perdido na escuridão de seus cabelos
Um fio muito mais claro.
Um fio branco no cabelo de mãe.

Ao meio dia de alguma usina
Ao soar do sino de alguma catedral.


terça-feira, 22 de março de 2011

Libre


De repente vem uma calma tão sóbria e cheia de si, vem as flores, as mãos, o som e a saudade. De repente me lembro e esqueço das coisas, porque são poucas coisas, poucas rosas, pouca vida, pouca fibra. De repente um cabelo branco perdido, uma tarde perdida, um amor perdido, um corpo a fenecer.

De repente a Láctea resumida nos olhos de alguém, nos olhos calmos de alguém. Ou na aventura arda que aprendemos na decadência do espaço, sem mãos enlaçadas ou peles macias, sem filhas, nem mulheres nem nada. De repente é uma coisa só.

As próprias flores pensando contra sí, as mãos traindo a sorte, os dedos criando calos.
A morte, que nega o impasse da vida, a hora absurda da morte.
"Daí somos mais fortes. De repente, sem mais nem menos:
Morremos."

sexta-feira, 18 de março de 2011

Ao meio

Eu sei, sei bem. Sei até demais, sei demais.

Apesar do falsete de medo que fez
Do escarro de sempre
Do sangue corrente
Sei bem o que fez e que faz.

E que não é nada demais
Mais, além e sempre
É tão normal a furia
Dos seus ancestrais
Herege.

O incêndio da sua mentira
O acordar fora de casa
Sem ter mais nada
Sentindo do incêndio a brasa
Seu grumo.

Seu grumo, escarro, vertigem
Sangue, visgo, caminho
Sono, nudês, desvarios.
Sua síntese mal planejada




terça-feira, 8 de março de 2011

Queria

São raros gestos vindo, muitos indo.
Do meu tempo quase todo o vão
E quando a sinto ardente, vais pra onde seja.
A hora agora é esclarecimento e é saudade,
é só e vai.

Como é viva sua imagem à distância,
Mais que à presença por costume em não ter nada
Senão o teu espectro rarefeito.

E do horizonte ouvir teu canto é vivo
Pois vivo ainda e tardo em morrer nas tardes quentes.
Porque ardo ao sim
Ardo ao não e ardo
ao túmulo da certeza.

"Uma só morte, um só poeta"


sexta-feira, 4 de março de 2011

Servidor

Eu cobiçava meus olhos eternamente voltados,
eternamente criando, eternamente escuros.
Também o cetro dos reflexos ou a magia da visão

E se não me fosse, ninguém cobiçaria.