Atravesso a rua e me escoro num poste, ainda daqueles de madeira que a prefeitura tirou anos atrás. A luz é mínima e tento decifrar o ruído hermético que me lembra algo da infância -Ultimamente tenho visto a infância em quadros, sendo por mim mesmo restaurados, um nada raros- Bordejo até a porta mais próxima.
Me peguei te vendo em forma de espectro. Gritei e não fui visto, te toquei e sequer sentiu...
"A verdade me vem quando estou só".
Hoje eu acordei sentindo a boca seca, a bexiga cheia, as pálpebras pesadas e musicando meu esquecimento. Musiquei os beijos que não dei, cantarolei o uísque que agora me pesa, decifrei a cidade pelo asfalto.
Quando você ouve algo e tenta musicar
Quando a música te lembra algo. Ou
quando todas as coisas se resumem ao silêncio:
Aí serei um tanto quanto estonteante
E lhe direi as verdades
Que não são.
-Garnel