sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Cordoalha

O cais perpetuou em mim os dias sem tuas carícias mesmo que sejam elas ainda vivas. O som solene das velas misturam o porto escuro da noite em que tua falta fere a ferro frio. Nem a lua me quis, mesmo próxima, mesmo no ponto em que ser linda não a basta, porque a minha beleza e saudade lhe pertencem como o barco ao mar ou a dor a falta.

Hoje te queria pois saudade dói
quando sentir dor só é bom havendo
os ecos de seus risos e a tônica dispersa.

dispersa nas águas do mar.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Body and ALMA


Eu já quis entender o céu, entender porque tudo cai na terra exceto as estrelas flamejantes que perambulam por aí. Queria entender tudo de lá que precise usar a ciência avançada, sem usá-la, porque a mesma é insensata. Sou contra a ciência das coisas, contra entender as reações, sou contra. Sou a favor de observar o céu e amar as estrelas, só amar.
Sou a favor do amor.

Sou a favor de sentar numa cadeira de praia -sem praia- a noite, com frio na ponta dos pés, dissertar com você nossa vida e mudar de assunto tantas vezes, me fazendo ser quem eu sou. Te expliquei as nuvens, me explicou as estrelas, te falei de Marte e usei minhas palavras tanto quanto você usou as suas. Marte nos trouxe tantas recordações, Marte é um expoente do nosso amor.
Com cores, formatos e sutileza variados, a noite passou e eu te conheci como da primeira vez. Só que dessa vez conheci seus sentimentos envoltos no passado.

Nossos sonhos São. -nosso Ser é próprio e nos substantiva- Ultrapassam os devaneios de ser. Pequenos tesouros cobertos de chocolate.

"Duas estrelas caindo, um aglomerado de estrelas piscando, sono sem vontade de dormir.
-Eu te amo, sabia? Boa noite."

E os cinemas que esquecemos de contar...

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Biblioteca


Quando o lenço tocou a água, foi com impacto de bomba, as lágrimas do filho vazavam invisíveis pelos verdes imutáveis do mar e sua mulher esquecera no canto dos olhos vermelhos um tanto de umidade, quase uma gota formada. O navio se ia e junto do navio ia um pedaço dele, a parte que lhe fazia amar, amando mais que a guerra ama um ideal.
Amar mais que a guerra é amar demais.

Suportou calado.


Mas calado, o coração fremia além dos pulsos e lembrar doía como pedra indevida.
Era como ver pela primeira vez a queda injusta do King Kong.

A dor do filho, da mãe, do general...

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Bifurcam


No Centro as coisas passam tão rápidas. -Quando eu vi escorado no poste
o corpo de um rosto conhecido.

"De onde eu te conheço?
Se eu te conheço não é de longe
porque longe, longe mesmo
eu nunca fui.
Talvez conheça das histórias,
que ainda brinco com as memórias,
tão contatas da vovó.
Te conheço de vista ao menos
pois não pode haver alguém
que se pareça tanto, tanto assim
com você, além de você mesmo."

Toda quarta na volta é, por ser, assim...
Quase toda quarta.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Do mais, além


Foram precisos 17 anos e muita música, 3 copas do mundo que me lembro sem buracos, nenhum osso quebrado e um dia estranho, tão cheio de algo. Foi preciso também ouvir um comentário que eu mesmo fazia e desprezar. Ouvir um garoto falar de jedis. Precisos um vizinho louco de mãe morta, que eu mesmo jamais imaginei morta. Agora não tenho mais jujus. Foram tantos jujus de abacate nas noites quentes das sextas-feiras, acompanhados da dor de cabeça de quando uma criança chupa sorvete muito rápido.

Precisei não reencontrar nenhum amigo do pré e aprender a pegar o ônibus sozinho. Precisei poupar as conversas que remetem as tardes frias de filme ou a busca de peças de computador com meu pai . Precisei viver um grande amor ainda vivo e ser quase responsável de meus feitos, responsável de mim. Precisei aprender a ver a hora num relógio de ponteiro. Precisei ver amigos antigos e não ser reconhecido, aprender a ver que as pessoas também sentem.

Foi preciso ser alvo dos olhares infantis por não andar no padrão, e foi mais preciso ainda ver que o padrão só segue quem tem medo.
Precisei abandonar a fantasia e distinguir o real do impossível
Distinguir as lotações do ermo que é a vida.

Enfim: precisei envelhecer pra notar que o tempo passa.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Um copo de liberdade


Ora, dividem o espaço do mesmo pomar
Que o bar faz apertado e soando copos.
Que o bar faz apertando suando os corpos
E que a verdade é que querem se matar.

Seus olhos, cliente e balconista, vertem
Suas máculas adquiridas ao longa da vida
Saúdam a esposa sequer nascida
Em suas vidas, já mortas, por desdém.

Ninguém é melhor que ninguém.