terça-feira, 31 de agosto de 2010

Extático

Ao vespertino som dos pássaros, te amo, feito seiva ao paladar dos voadores
Debruço em sua têmpora meu rosto, para amar-te mais e mais
Sendo mais insuficiente, sem amor o suficiente para amar-te mais.
Te amar numa espiral depressiva, dando voltas e caindo, e caindo, e caindo
Para onde quiser, se quiser, por querer, pois quero amar-te mais e mais
Dentro das horas que suplicam pra que eu te ame mais.
E eu já amo, para mim, da forma mais horrenda e maciça, com os sentidos todos
Galgando ao som alegre dos pássaros, que amam tanto e quanto mais
A seiva do amor que não lhe falta nada, porque já não me falta amar-te mais.
E se falta, logo encobre o meu amor com a doçura dos versos que se perdem
E se encontram, e se perdem e se encontram como tontos
Se encontrando ao som cortês que exaspera dos seus lábios, já tão amados
que nem precisam mais.


segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Rubro

Vai, essa falsa promessa me enoja
nas horas constatadas pelos filiformes
ponteiros do relógio de parede.

Meu coração palpita vagamente

Vai, já não existo senão contigo.
Se não existes, se não mais quente
tenho o negrume da solidão.

No leito dos cisnes

Vai, esvai, sai, deixa-me
porque gastei o último suspiro pedindo mais.
Chorei o haver da existência.

Que morri sem conhecer.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Eufonia

Percebi que seu nome me anima.

Minhas pálpebras tremulam numa síndrome de beija-flor
quando escuto o hiato socado de seu nome,
perpetuando o meu dia com um singelo,
frutivo
e
sagaz pronome feminino.

Ela no corpo da rua.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010


Sem querer descobri que não existo, de repente, sem motivo algum. Meu reflexo mostra o que não sou ou o que pode mudar. Mostra que na verdade sou o que vejo, e se não vejo, não existo.
Se me limito a ver com os olhos meu reflexo limita a mostrar a parte de mim que não me vale nada, ou seja, inexisto para mim. Se sou amplo e me vejo além dos olhos, não presto atenção ao físico e já não existo uma vez mais, nem para mim nem para alguém, todos.

Todos são assim, mas quando se conhece passa a perceber que desconhecer era melhor, como são todas as coisas.

Como é a vida em si, uma série de fracassos que resultam no conhecimento que resultam no fracasso.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Invariável

Quanto a mim, um pedaço já se foi.

Notei enquanto dormia -sonhava ouvir maravilhado o som de seu lamento- que o acaso fora perdido sem razão, igual quando se perde um século em um dia por traição ou incompatibilidade. Deve ter escorregado do bolso - mas não pressenti na hora, provavelmente por culpa das minhas calças largas - e caído na rua, na sarjeta ou bueiro abaixo.

Por um tempo achei que essa abstinência não me faria falta, mas quem me variava a vida era justamente o pedaço que se foi. O que me detia era o universo que girava em torno do pedaço. Agora não há universo me que orbite nada. E Nada não forma um universo, apenas o infinito.
Ou o pedaço que se foi.

Mesmo estando apenas menos presente
como uma bússola na atualidade.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Mácula

Então minha cabeça se encheu de injúrias e quanto mais aquela senhora dialogava mais me ardia de pena. Considerei o fato de que a única saída que ela tinha era afirmar aquilo infinitamente, como fez, por falta de conhecimento no que afirmava. "Deus sabe de todas as coisas"

Não que eu desconfie da onisciência de Deus, mas viciar em sua palavra não traz nenhum exaspero para a física das coisas e nem é um contrapeso para o mal. Podia ver que o sinônimo de Deus para a moça era recompensa, dízimo, ou algo do gênero, que o seu pastor lhe influenciou a pensar, pois me surpreendia com a quantidade de vezes que a mulher afirmou, como se a pessoa do outro lado da linha não entendesse nada do que ela dizia e fosse obrigada a repetir inúmeras vezes ou como quando se responde todas as perguntas com o mesmo tá, em todas as respostas.

O fato é que a plenitude para a mulher parecia tão distante que passei a me confundir com essa afirmação - Deus sabe de todas as coisas, dentro das coisas que já sabia, assim numa infinita incógnita de conhecimento e reinado- que já me parecia incompleta, ou que faltava algo na verdadeira fonte.

Vi que assim as pessoas morrem solitárias, pois nada para elas é o suficientemente interessante que não caiba a resposta Deus sabe de todas as coisas para consolar, brigar, ou qualquer situação, pois tudo envolve tudo e deus já não é o mesmo: dista as gerações futuras que um dia serão passado, e do passado que ainda vive nas lembranças do sacrilégio de culpar indiretamente Deus de tudo, por saber de tudo.


Eu sei Quem sabe de todas as coisas, mas o embate me afronta quando vejo o quão fugaz é segui-las sem outras.


sexta-feira, 13 de agosto de 2010

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Perene é viver só
à sombra do esquecimento,
o ardor dos deuses
lhe arde a vida ao pó.

Viver é a resposta de tornar a vida um breu
assim ser afagado pela impalpável mão do vinho,
senão pela alma do gozo do mundo
que ao fim me recolhe ao peito teu.

"Lembrando sorria
perdi horas sorrindo
de tanto sorrir
me emudecia."

Fui passageiro, mais pobre do que pude
no passado que foi uma viagem oprimida,
em busca da liberdade desse amor
que me fez só, por toda a vida.

-Garnel

quinta-feira, 12 de agosto de 2010


Em suma, a Terra trêmula pena por nossa existência
E brame em terremotos a ânsia de nosso fim.
Vomita em lavas o desejo de nosso incêndio
E ecoa entre as colinas a beleza do próprio mundo:
Vivente do véu prata da Lua,
Do crepúsculo alaranjado do Sol,
Da verdade que o homem subsiste, e
Da ironia de ser julgado em poesias.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Sinal


Relógios sufocam as horas aprisionadas pela entidade dos minutos, que hoje estão passando como o transito, frios e curiosos por conhecimento. E tendo a conhecer as lembranças mais a fundo, redescobrir os aromas que não senti nas horas ou rever o que me passou despercebido. Pertenço ao grupo daqueles que vivem em silêncio, que lembram dos bares que na infância se comprava balas ou outros doces. Não pertenço a mim quando não pertenço a imagem que me reflete o espelho.

A mortalha dos dias se difundi com a bruma e o rosto disforme que vejo dentro de uns olhos atônitos me fitando, e quando fitam, os lábios sorriem para a aplacar o desejo que conhece em mim.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

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Viver já é prescindível
dispenso essa fofoca que é subsistir.
Acordar toda manhã sob o mesmo céu
servindo calor para quem
não precisa mais,

Bailando no tango do sono
que te acusa em cada sonho
de me amar feito uma amante.
Insensato, talvez, mas cheira como
o copo dos jasmins.
E sem jasmins,
não me contento com a copa
de outras vertiginosas.
Nem fingo ser feliz;
Pois ser feliz pra mim condiz com sua voz
com o seu canto doce e desentoado
com o veludo de sua pele.
Ser feliz é te amar, no desejo dócil de um homem.




segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Pra alcançar o ponto

Eu não entendia nada do que ele dizia, era como se viessem sussurros de todos os lados e as ondas do som se esbarrassem deixando tudo com menos sentido, pois já não haviam lados e tudo era um só, o cosmo, esfacelado e infinito, como nunca visto antes, o infinito. Aquele negro, ainda sem estrelas, só negro, fazia com que nós nos sentíssemos únicos. Senti-me um astro em eclosão, dentro dos astros que ainda não existiam, o único, simplesmente.

Pra não entrar em detalhes, milhões de anos depois surgiram inúmeros Corpos Celestes, cada um com sua respectiva atmosfera, suas leis - impenetrabilidade, inércia, entre outras - fases, Luas, pendências. Até que no meio desse alvoroço todo, surgiu a Terra, nua, com o Espírito de Deus pairando sobre a face das águas. Um novo Deus, já que tudo era novo na Terra, ainda sem propriedades.

A Vida foi uma das últimas coisas a surgir, mas surgiu um dia, que não lembro muito bem. Começou unicelular, invisível aos meus olhos plasmáticos, e quando acordei já existiam os Saurópodes, Anquilossauros, Ornitópodes, etc e tal. Reinava o absoluto Rex, como reina o mal sobre o mundo até hoje, até que foram todos extintos via meteoros flamejantes. E depois, alguns jurássicos que ainda hoje vivem. Até chegar a torpe criação do humano, que não me lembro se paralela a qual. Vieram vários Homos, até chegar ao Sapiens: neanderthalensis, rhodesiensis, todos já extintos, e ainda antes o requisitado Australopithecus.

Daí vieram as descobertas, as caças e a reprodução, as cavernas e as pinturas. Depois a roda e o fogo. Depois um buraco que me leva até as cruzadas, os aldeões e ao catolicismo. A escravidão, os negros e índios, as armaduras e carpinteiros. O cérebro embarafustado de velho, e as informações remoendo de ódio. As artes mais famosas nascendo no mundo, os movimentos e a magia dos talentos. Antes de muita coisa dita, a Mitologia, e retomando, a tecnologia. O primeiro automóvel, alemão se não me engano, depois milhares de outros. A primeira TV, até o holograma. Os aparelhos de som gigantes e os que podem ser carregados no seu celular.

E o apocalipse próximo, com os auto-falantes e homosexuais.