segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Mais que isso


Minha grande delícia é, na verdade luxuosa do tempo, encontrar-me a boca num copo quente de café: Num café de padaria, suculento e linear, acompanhado sempre da voz rasgada do balconista cearense, da moça que está para ser demitida, da morena quase bonita, do maluco que pede pão, da caixa grossa, dos doces da semana passada, das aulas perdidas, das sujeiras ou o odor de urina do banheiro sujo. Acompanhado sempre do mesmo amigo.

No final das contas
A saudade vai me sufocar
E as lembranças serão labirintos encaracolados
Como nossos antigos cabelos.

"FALOU CEARÁ!"


sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Amanhã


Lembrei da paixão vadia que tive sempre por teus lábios. Como progressão de paixões, uma somando-se a outra. De ti, teus lábios, teu jeito, teu pescoço, sua tez e a maciez que a envolve resultando num amor infame, num amor sincero. Tão sincero que já vejo tudo:

Cecília entre nós dois, no banco escuro do piano escuro. A sacada entreaberta numa noite quente, com o refresco em teu sorriso doce, meigo e singular. Depois, relembraremos da noite que te pedi em casamento, relembraremos do início do relacionamento, relembraremos de como tínhamos vontade do presente -atual futuro-. Junto a nós três aquela vontade de eternizar a cena, o espaço de tempo mais feliz de nossas vidas.

Essa paixão que me cerca faz-me crer que tudo será possível, essa vontade desesperada de você. Até seus olhos, como cárcere, me prendem nessa necessidade de seguir adiante.

"Vejo, enfim, no nosso sereno jeito, a intenção mais velha, clássica
e humilde
de ser feliz."

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

É bom saber...


Quem é você senão a inversão de mim mesmo?
Talvez minha carcaça como verruga nos pés de Deus, ou talvez a carcaça de Deus nos pés de seu reflexo engrandecido. Senão o paralelo das mentiras, os pólos das mentiras. Talvez seja a mentira.

Talvez seja a mentira, você, coberta de mel.

"E quem gosta de nós quer que sejamos alguma coisa de que eles precisam. Mentir da remorso e não mentir é um dom que o mundo não merece."

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sábado, 1 de janeiro de 2011

Quem vai


É melhor dormir mais cedo
Ainda com a inocência em sã consciência.
Antes que revire o grande satã que mora nas lembranças
E geme num sorriso a agonia incógnita das festas,
das manadas consumistas, das gordas, dos íncubos flagelados.

É melhor dormir mais cedo
Porque quem toma conta das crianças é a doença
E quem cuida da doença é o homem. Deixe que morram
As crianças tão cheias de vida.
A morte é feita de circo, festas, primavera.
A morte é quase sempre mais feliz que a vida:
Lá não dói, lá ninguém vai nunca embora
As janelas vivem cheias de gente dizendo "oi"


"Se nunca mais voltasse
Seria a morte, o antibiótico derradeiro."