terça-feira, 28 de setembro de 2010

Dez invernos


A lareira será no centro da sala para que o calor e a luz se unam a lua da janela principal. Só será acesa quando o inverno tocar nossas faces e gelar as espinhas durante as noites em claro, eu na poltrona e você sobre mim. Vai me sussurrar suas fraquezas e sua voz será o sinal do que se passa. Nossas horas serão alaranjadas, ao som das brasas que estouram desordenadas.

Então me revestirei da matéria que desliza sobre sua pele e desvendarei os versos de sua tez macia, das verdades escritas no branco dos ombros nús e das mentiras dos lábios. Deixarei de adjetivar suas ações e o verbo se tornará maciço como quando te prometo amor. Amar...

Acordaremos abraçados, você e eu.
Com o cheiro de café do bar ao lado
A cortina entreaberta, o edredom amassado
Com os versos descobertos que li em você.

Minha camisa desgrenhada será sua roupa
até o final da manhã, quando você se banhar
esperando na certeza de que eu bata na porta.

Aos vinte e poucos de 2010, vintando Paris.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Medula


Nenhuma palavra de consolo. Quando em vez de amor bebi café.
Em vez das flores, colhi o joio das palavras
E não pude me conter.
Não dormi, não senti, não me amei pois lastimei ter vindo a vida
Se não pude nela ter, não tendo nada.

Nenhum sol em dias tão quentes, pois meu Sol se apagou.
Desmembrou-se e não subiu adiante aos montes
Não clareou o seu dia de tantas luas de espera
E não sei o porque, mas fez-se noite e temo a escuridão eterna.

A moral despencou no pélago, variei as rotas
Desenvolvi doenças, servi de vácuo.
Meus poemas se foram


Desaguaram numa incógnita visceral.


sábado, 18 de setembro de 2010

Do século


Fui eu quem não notei a mais pura beleza
E me perdi
Enquanto a integridade do simples já bastava.
Verti-me no aéreo espaço. Agora imploro
Nego, renuncio, choro, perco, pela simples
E tão necessária falta de sorrir.
Porque sorrir para mim será a mentira
E a mentira será meu sorriso, oculto,
Arredio em alguma lágrima.

Me perdi pensando se devo mentir.
Mas a mentira sorri
Enquanto quem mais precisa disso:
Sou Eu.


quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Movediça


Parei de sentir o efêmero porque ele é o espaço entre a fruta podre e o chão
As coisas efêmeras não passam como diz-se
mas seguram como a cordoalha dos navios.
Os navios quando libertos são lindos, mas as memórias os prendem
e os pescadores sonham com a terra, a areia, suas mulheres
e tudo se faz efêmero, por isso deixei o mundo de lado.

é maior que toda minha existência