sexta-feira, 16 de abril de 2010

Porém real

Hoje Garnel tombará na noite, como um falcão rompendo as gotículas das nuvens.

O coração bate contra o muro de recordações indeléveis que os anos o propuseram, os anos não muito distantes, e Garnel bebe para distrair o inesquecível. Desce a escada deslizando a ponta dos dedos sobre o corre-mão mofado e cambaleia até a primeira cadeira à vista. Ponderando a desgraça lida no ônibus de volta pra casa, a descoberta insana de um antigo amor. Lia de mãos trêmulas, suando álgido na testa e galopando os buracos da rua. Garnel vê sua cama vazia e se pega tombando de bêbado, debruça-se sobre a cômoda de madeira, meio acinzentada de tão velha, e espargi todos os fluidos de teu corpo forte.

Na manhã seguinte, o Sol nas costas produzindo uma sombra triplicada no vasto quintal, mastiga o pão que comprara a mais na manhã passada, pois esperava um amigo que não compareceu, mais um motivo evidente para decepção que sofre. São cem dias, completos hoje, que Garnel desemboca todos os seus caminhos em becos escuros escondendo-se da realidade da vida.

Garnel vê transmigrar em sua frente todo o escol que um dia teve. No início de uma noite quente de outono repete todas as doses que tomara ontem, que já foram repetidas anteontem. Se vê preso numa cadeia infame que tenta ressuscitar antes que a noite caia sobre ele.

Um comentário: