quinta-feira, 8 de abril de 2010

Irmão da vítima

Eustácio acreditava de alma cálida na ressurreição da irmã, pois morrera soterrada por duas avalanches de barro e barracos horas atrás. Cria que quando as escavadeiras encerrassem o ofício, os bombeiros carregariam-na numa maca empoeirada de escombros ainda que com a vida bem escassa, e algumas câmeras ao-vivo entrevistariam o alívio do irmão. Já era tarde para o homem e foi cedo para a jovem asfixiada deixar o mundo. Dentro daqueles olhos tencionava um vermelho de choro em cada quilo de terra que as pás retiravam, tanto a dos civis quando a dos bombeiros que trabalham como se cada corpo morto ou quase morto que estivesse soterrado fosse um parente muito próximo.

Essa manhã o Sol jaziu às lágrimas que a terra absorve na eternidade da perda e irriga as flores arrastadas pela força da água. Abriu-se o ventre das águas, nas águas que vertem de dor.

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