terça-feira, 13 de abril de 2010

Alguém chamado Lua

A suntuosidade da Lua desponta, para Garnel, em cada poente, quando o prateado do clarão do luar se disfarça no Sol fugindo e deixando suas pegadas tingidas de laranja. A Lua o atrai só por existir, mesmo nas manhãs em que se perde do outro lado do mundo e o abandona na medonha luminosidade do Sol. Por tanto admira-la, gastava dias vendo aquele indo e vindo, como as ondas nos pés das pedras que envolvem as praias.

Garnel valorizava cada feixe de luz que a Lua espargia durante toda a noite, idealizava a matéria prima de sua circunferência, como idealizo tua voz. Creio que Garnel via na Lua não mais do que quando te vejo. Garnel via das nuvens, seus olhos refletindo do cume das montanhas o pouco do Sol que resta mesmo no escuro. A substância da Lua encherá minha boca de amor, e os astros amam-se enquanto tens a Lua aprisionada, enquanto és a Lua aprisionada.

Hoje Garnel não só a ama, a tem enlaçada numa paixão explosiva, a ama como o fogo ama o álcool. Dorme submerso numa noite mais cinza que a outra sem motivo para abrir os olhos pela manhã. Sabe que ao acordar não haverá compania melhor do que quando dorme.

Aquela fantasia dos dois amantes que se embriagam fronte ao clarão do luar seria embriagar-me só fronte ao teu rosto. E ainda que me cale numa sombria revolta, ainda que o verão atrase a chegada da Lua, ainda que vacilem os amantes, morrerei mesmo impassível, pois não há impassível enquanto és minha.

De pouco em pouco, bebendo a doçura de tua seiva.

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