terça-feira, 1 de junho de 2010

Simples

Não sei se é nítido, mas tudo que escrevo acaba - algumas vezes sem intenção - se derramando numa ordinária sequência. As mesmas coisas ditas de maneiras pluriformes, sem início, com fim. Descartando as prosas românticas que me dão pouco trabalho, e uma qualidade não lá muito comovente em relação ao meu próprio censo crítico. Seria mais um desabafo, mais não me agrado desse termo tão usado dentro dos fins de relacionamentos, quando as mulheres choram para outras mulheres ou para seus amigos efeminados, também meio mulheres, e falam o que entope suas glotes rasgadas de tanto soluço. Ou seria para fugir de minhas próprias broncas, me regularizar dentro dos meus padrões limitados de talentos, de palavras, limitados de tudo.

Quando percebo que cesso minha fome é porque estou dentro da mesma sequência mais uma vez. Entro sem perceber, falta de criatividade, necessidade, independe. E creio que já estou na mesma novamente, como quando um velho te pára para contar histórias de sua infância na roça, de sua avó muito tetuda e de seus almoços as 10:00 da manhã. Essa deve ser minha marca, a característica singular que cada amante recebe dos céus, minha aparência crua que não tive escola ao ganhar.

E um dia, hoje mesmo, minutos atrás, eu descobrira que a beleza da escrita está na simplicidade das linhas, no amor pelo que se lê e se escreve, e ponderei nessa desculpa esfarrapada que testifiquei acima sem dizer nenhuma verdade pra mim mesmo, nem para quem me lê. Descobri que as palavras são mais compreendidas na ausência do erudito, e que juntando todos esse fatos têm-se um arsenal para publicar um livro, um dentro dos cinco mil que surge a cada dia. Tem-se um exército armado até os dentes para defender com poucos versos a idéia, por mais mal formada que seja, de alguém que pratica o complexo sem primeiro testar o casual.

Fácil também é citar nomes, só citá-los para que venham em mente rostos, conhecidos e portadores desses nomes. Mas creio que além de mim, poucos fazem. Simples é amar, vidrar-se em olhos que ninguém mais vê da mesma forma além de quem os ama. Eu como exemplo: vejo os olhos comuns como duas gotas, sempre iluminadas que escorrem dos cabelos para esconder o interior da cabeça, esconder a parte nojenta e não deixar vazar a massa cefálica para fora do rosto, como uma cortina serve para uma sala de estar. Mas quando se ama essa cortina, esses olhos, tudo se transforma em Marizas, Marias, Cecílias, Beatrizes, Elzas, Castanas, Matildes, tranformam-se em Gabrielas. E as imagens todas me vieram a mente. Amar é facil, simples melhor dizendo.

Seguir o relógio é um ótimo exemplo, pois as horas passam, simplesmente passam, e não há anos, sonho, droga, mares ou qualquer coisa que impossibilite ou seja um entrave no caminho. O tempo é simples e se repete todos os dias. 24 vezes por dia, 60 vezes por hora, 60 vezes por minuto. Continue a quebra de quiser, agora não tenho tempo.

Simples também é conversar sozinho, pois nessa solidão as coisas vem à tona e a graça indizível de viver consta em não ter ninguém para contar seus raciocínios. E talvez isso dê sequência ao meu início e esse seja o problema, talvez não tenha mentido quando expus-me, talvéz. E talvéz tantas outras coisas que me vem quando estou só. Talvez o mundo não precise mais de mim, talvez. Talvez não haja solidão e seja só um sentimento a parte. E tenho que dizer que não me sinto só.

Talvez nada seja simples como parece pois tudo me parece simples demais. A vida tão maldita por muitos me soa simples, e a morte ainda mais. O algodão nos orifícios, o banho que durará a eternidade, toda essa vaidade pós-morte me parece simples.

Escrever coisas sem sentido me parece simples, que sei que faço sempre que por algum motivo decido escrever sem simplicidade.

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