segunda-feira, 14 de junho de 2010

Quarto de espelhos

Se fosse para descrever com vigor a urgência do que é abolir todas as horas de ausência, me perderia como aqueles cães da cidade que fitam os frangos assados ou como peixes que se perdem do fluxo dos peixes e desvendam o mar como procedimento da morte. Iria variar sem querer, de forma descontínua, as horas dos cafés, que não me canso de queimar.

Meu raciocínio seria o tal: suceder as minhas falas com um "meu caro" de inefáveis sentidos, incontáveis deles. Seria para um monólogo e uma carta que nas duas faces apresente o mesmo endereço, mesmo nome, que nas duas faces seja a mesma carta, leitor e escritor sejam a mesma pessoa.

Descreveria a estratosfera, em suma, tornando-a de um exorbitante negro sem fim a um arabesco rabiscado. Em proporções, comparado com dois olhos simplesmente, negros e enternecedores, talvez vastos como o infinito da estratosfera, ou curtos e fechados como o infinito de divisões dentro de um grão de areia, irritando os olhos que são também infinitos. E tudo é infinito, inclusive a ausência que não existe, por cada ser ser infinito, tendo em si a companhia auto-suficiente e nunca mais só, e se só, acompanhado de um pedaço de si.

"Se fosse para descrever com vigor a urgência do que é abolir todas as horas de ausência, me descreveria como aqueles cães ou aqueles peixes do início, me fragmentária em partículas até me tornar inexistente aos olhos humanos"

-Garnel

Nenhum comentário:

Postar um comentário