domingo, 6 de junho de 2010

Epístola pra França

"Bom dia ou boa tarde,
pois creio que os carteiros por aí não trabalham durante a noite, como em nenhum lugar fazem. E não sei o horário que lhe será entregue essa carta que fiz por fazer enquanto lamentava as horas sem você e via a praça vazia sem teu brilho, enquanto eu espargia meu corpo sobre a cadeira e apoiava os cotovelos sobre a escrivaninha empoeirada de tanto tempo sem uso.

Temos um oceano e alguns países de distância, nada que como tudo que fizemos, possamos superar ainda juntos. Com a separação física cravada como uma nódoa causado por um trauma de infância, a saudade fatigando os minutos acordados, tua ausência acometendo meu edifício já estilhaçado, fica mais fácil te escrever do que quando te tenho ao meu lado, cálida de amor, vibrante como sempre. Espero que tua fonética seja a mesma quando voltar, que sua língua raramente enrosque enquanto fala, como sempre, te tornando a mesma, sem precisar tornar nada. Não imagina o que é passar na sua rua sabendo que por tempos não é mais sua, sabendo que pode ser sua mais você pode não ser mais a mesma. Consigo ver as lágrimas que molharão esse papel enquanto ler, juro que consigo, e digo:

-Não chore jamais pela minha espécie que não te é digna, pois mesmo sabendo que a tua é, não choro, de tão sem dignidade que é a minha alma.- E tenho certeza que não choro por não haver mais nada dentro de mim senão o opaco que tua falta me faz, senão o vazio, o vão do tempo e do espaço, e entro em contradição com minha própria palavra, que é a tua saudade. E agora, pela primeira vez soube o que fazer para dizer algo, para expressar algo, sem errar, talvez.

E te juro Gabriela, com todas as forças que ainda me restam para jurar, que o tempo para mim parou no derradeiro sentir da tua carne macia.

Do ainda seu
Felipe."

Talvez um dia precise de algo do tipo, sem refugar palavras.

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