terça-feira, 20 de julho de 2010

Influxo

Maria, a dona de casa magrela que menciona as histórias de todas as cicatrizes sempre que possível pra se fazer de coitada, assentou-se a beirada da cama e se dispôs a rezar. Rezou como a quem a morte está próxima, como a quem perde um parente ou como a quem é traído. Inclusive na reza mencionou a cicatriz ainda não muito bem formada que o marido lhe atribui na última noite em que voltou tarde para casa.

O marido, estirado em uma mesa retangular conversando, ainda não muito bêbado, e pensando na esposa que para ele dorme, pensando na esposa que reza e chora. Dissimula atrás dos risos a preocupação que tem com a saúde mas não se contém e continua a beber em silêncio. Trama entrar em casa e se dar com a esposa deitada, mas sabe que será recebido com os olhos úmidos e de tédio espancará de leve para espantar a melancolia, como de costume, e se não acontecer, caíra no sofá antes sequer de vê-la com a camisola branca que usa desde o casamento.

À sobressalto, Maria só queria contemplar o céu, que é lindo se bem visto.
Caiu definitivamente, por conta do veneno.

"E dormir na hora mormurando: "Dora"
Mas você é Maria"


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