segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Do mais, além


Foram precisos 17 anos e muita música, 3 copas do mundo que me lembro sem buracos, nenhum osso quebrado e um dia estranho, tão cheio de algo. Foi preciso também ouvir um comentário que eu mesmo fazia e desprezar. Ouvir um garoto falar de jedis. Precisos um vizinho louco de mãe morta, que eu mesmo jamais imaginei morta. Agora não tenho mais jujus. Foram tantos jujus de abacate nas noites quentes das sextas-feiras, acompanhados da dor de cabeça de quando uma criança chupa sorvete muito rápido.

Precisei não reencontrar nenhum amigo do pré e aprender a pegar o ônibus sozinho. Precisei poupar as conversas que remetem as tardes frias de filme ou a busca de peças de computador com meu pai . Precisei viver um grande amor ainda vivo e ser quase responsável de meus feitos, responsável de mim. Precisei aprender a ver a hora num relógio de ponteiro. Precisei ver amigos antigos e não ser reconhecido, aprender a ver que as pessoas também sentem.

Foi preciso ser alvo dos olhares infantis por não andar no padrão, e foi mais preciso ainda ver que o padrão só segue quem tem medo.
Precisei abandonar a fantasia e distinguir o real do impossível
Distinguir as lotações do ermo que é a vida.

Enfim: precisei envelhecer pra notar que o tempo passa.

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