quarta-feira, 31 de março de 2010

Pomba

Tive a sensação de ter esquecido algo. Obstante, sabia que não havia, pois estapeei o bolso e abri a bolsa para me asseverar o já sabido. Curti o caminho à lentos passos e na mesma cadência perdi o ônibus que de rotina sempre uso como meio. Lembrei o que havia esquecido, e não esqueci de nada pois carregava teu cheiro em minha mão, e teu último beijo aonde sempre guardo e nunca esqueço.

A verdade é que não esqueço nunca, e se esqueço não quis lembrar. Ou esqueço sim, em horas como agora, que uma criança gira em torno da mãe e usa de um dialeto sem forma, como uma pomba quando aspira o cachorro-quente alheio. No ônibus, os olhinhos pouco assimétricos da criança se mechem desenfreados enquanto fitam carro a carro, árvore a árvore, e a mim, que escrevo sem motivo nem tempo, enquanto o tempo acaba quando o sono ataca de vez.

Como uma pomba descansa no vão dos concretos, descanso no vão daqueles olhos que se cansam de tanto voar.

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