terça-feira, 4 de maio de 2010

Mãos vazias

Um dia desses te trago uma fatia de bolo, um doce de leite, um suco de uva, um anel, o que preferir. E não mais voltarei sem nada nas mãos, além de um monólogo que sempre trago comigo, ou da bolsa que carrego vazia. Trarei algo pra compensar minha ausência, algo para designar nosso desejo mútuo de amar, te trarei algo pra comer. Direi ao padeiro que enfeite um bolo com seu nome, colorido de tantas balas de chocolate, num sortilégio para que esqueça de mim por uns dias. Pedirei ao vendedor da doceria que esvazie o estoque de balas pra te cobrir de gostosuras, te deixarei mais doce.
Ou não. Virei batendo palmas por ter as mãos livres demais, por não ter trazido nada pra ninguém, por não ter ninguém em mãos para trazer um nada.

"Nem sei distinguir mais as estações, de tão invasiva que passa a ser a lamúria do inverno e da fome que os mendigos passam nas sarjetas álgidas e úmidas."

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